quinta-feira, 28 de abril de 2016

Contabilidade criativa e o monge Pacioli

Nesta semana foi comemorado o Dia do Contabilista. Nada mais importante que apresentar a evolução da contabilidade brasileira. Devemos lembrar que foi graças a grande capacidade de resistência e competência técnica que as empresas conseguiram sobreviver durante um período em que o país vivia sob elevada inflação, distorcendo de forma relevante as demonstrações que eram apresentadas ao mercado.
Neste momento voltamos a viver sob a ameaça de inflação, causada principalmente pelo descontrole das taxas públicas e desacertos da política econômica agravados pela crise de ética e moral pela qual passa este Governo. Felizmente parece dar seu brilho a luz emanada por ações coordenadas do Ministério Público, da Polícia Federal e de um Juiz célere em suas ações de julgamento e banimento dos corruptos e corrompidos, especialmente nessa operação denominada de “Lava Jato”.
É preciso ficarmos atentos para os atos que visam usar de forma indevida a contabilidade, distorcendo seus princípios e objetivos de informação pública e, principalmente, aos gestores das entidades.
Parabéns contabilistas pelo seu dia. Perseverem sempre! 

Os subterfúgios destinados a alimentar desvios envergonhariam o franciscano
Mais que nunca, a máxima "não existe corrupção sem corruptores" precisa ser tratada como mote a ser respeitado e seguido. Vivemos momento de transformação do País, em que não podemos relegar nossos valores mais éticos e nosso comportamento moral a um segundo plano.
A cada dia, conhecemos pela imprensa relatos de que conceituadas empresas brasileiras vinham se valendo de recursos criativos de contabilidade e de subterfúgios orientados a escamotear atos, ações e processos destinados a alimentar desvios e a corrupção de agentes públicos e privados.
O que vemos no dia a dia de algumas empresas é certamente um exemplo que envergonharia profundamente o monge franciscano Luca Pacioli, o pai da contabilidade moderna, que, no longínquo século 15, criou o chamado método de partidas dobradas, preparando as bases para as atuais Ciências Contábeis.
Vivemos, também, em um mundo globalizado, em que países que não toleram a desigualdade de oportunidades vêm criando leis que extrapolam limites das fronteiras nacionais na perseguição daqueles que se dedicam a malfeitos. É o caso do FCPA (Foreign Corruption Practice Act), dos EUA, e do BA, (Bribery Act), do Reino Unido. Sem sucesso, lamentavelmente, o Brasil vem reforçando o arcabouço legal dedicado ao combate à corrupção nas corporações, como no caso da Lei 12.846, sancionada em 2013.
Os sistemas de controle de desvios contábeis têm evoluído e reduzido chances de gestores desviarem do caminho da retidão e da responsabilidade nas finanças corporativas. Mesmo assim, profissionais e empresários pouco éticos valem-se da criatividade e da desfaçatez para enganar órgãos de controle e o fisco.
Diante do quadro de insatisfação, é preciso que cada um de nós decida não pactuar com as mazelas que tanto mal fazem às instituições. Não aceitamos mais que a corrupção seja protagonista em nossas vidas. O momento é de prezar pela honestidade, pela valorização das relações comerciais limpas, pela correção na gestão pública e privada. As empresas, assim como as pessoas, precisam zelar por suas responsabilidades. Não só argumentar que a única forma de sobreviver no mercado é "agindo incorretamente como os outros". Isso não é verdade definitiva. Empresas e pessoas que não transigem da honestidade e da correção existem e, em geral, além de exemplos de atuação, são as que acabam conquistando melhores resultados e, o mais importante, o respeito de toda a sociedade.
É hora de virar a página de passado que precisa ser apagado de nossos costumes.
A corrupção está entre os piores males que corroem as estruturas de uma nação. Temos de lembrar, sempre, que nossas atitudes e ações são a base da transformação daquilo que tanto mal tem feito ao Brasil. Que todos nós lutemos e atuemos por uma sociedade melhor e mais honesta, e que tenhamos a consciência de que o fim da corrupção depende de nossas próprias atitudes.
José Osvaldo Bozzo é consultor tributarista e sócio da MJC Consultores
Postado em 27/04/2016 - Fonte: DCI - SP

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